SPORT CLUB GAÚCHO
Feito glorioso completa 45 anos
No dia 18 de dezembro de 1966, o Periquito chegava pela primeira vez à Divisão Especial do futebol do Rio Grande do Sul
Paulo Daniel (DM)
“Era o desabafo de quase 50 anos de luta. Isso diz e justifica tudo o que vivenciamos na inesquecível data do dia 18 do corrente. Homens, velhos, moços e até crianças com a chuva encharcando suas vestimentas, com o barro tomando conta do corpo inteiro, abraçavam-se, festejavam, vibravam, com alegria e choro, com a voz sem qualquer eco com o entusiasmo no seu auge, favam vasão a uma alegria que que significava muitos anos de lutas, muitas dificuldades vencidas, adversários de renome superados, enfim, o mais alto posto que uma agremiação de futebol pode alcançar em sua história. A cidade inteira colocou-se ao lado de seu representante...”
“Era o desabafo de quase 50 anos de luta. Isso diz e justifica tudo o que vivenciamos na inesquecível data do dia 18 do corrente. Homens, velhos, moços e até crianças com a chuva encharcando suas vestimentas, com o barro tomando conta do corpo inteiro, abraçavam-se, festejavam, vibravam, com alegria e choro, com a voz sem qualquer eco com o entusiasmo no seu auge, favam vasão a uma alegria que que significava muitos anos de lutas, muitas dificuldades vencidas, adversários de renome superados, enfim, o mais alto posto que uma agremiação de futebol pode alcançar em sua história. A cidade inteira colocou-se ao lado de seu representante...”
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O trecho retirado das páginas do Diário da Manhã do dia 20 de dezembro de 1966 iniciava a crônica de uma das maiores glórias vividas pelo futebol passo-fundense em todos os tempos. No longínquo 18 de dezembro de 1966, torcedores de Cruz Alta, Santo Ângelo, Getúlio Vargas, Carazinho e de muitas outras cidades da região desembarcaram em Passo Fundo para um dia que seria apenas de festa.
“A conquista do Gaúcho foi um divisor de águas para o futebol de Passo Fundo e da região. Até então nossa cidade tivera dois momentos em que quase chegaram lá. O 14 de Julho caiu na fase semifinal da divisão de acesso, em 1964, perdendo para o Avenida de Santa Cruz, em decisão por pênaltis. Em 1965, foi o Gaúcho que chegou à final e foi batido também nos pênaltis para o Riograndense de Rio Grande. Desta forma, a torcida alviverde, em especial, não acreditava que decidindo dentro de casa, pudesse deixar escapar o título, que esteve quase em suas mãos no ano anterior”, relata o historiador Marco Antonio Damian.
Segundo ele, foi um jogo memorável, com uma chuva torrencial, ingrediente que não tirou de forma nenhuma a enorme felicidade dos torcedores que estiveram no Estádio Wolmar Salton. “A partir daquele momento o futebol passo-fundense atingia outro nível. Os adversários seriam o Internacional, o Grêmio, os clubes de Pelotas e de Caxias do Sul, os clubes de Bagé, naquela época muito forte. Esta conquista do gaúcho foi tão entusiasmante que seus adversários na segunda divisão trataram de também agigantar-se. No ano seguinte (1967) o Ypiranga de Erechim foi o campeão do acesso, e, em 1968, o 14 de Julho de Passo Fundo. O Atlântico de Erechim passou a jogar a primeira divisão, em 1970. Mesmo ano em que os clubes de Carazinho, Glória e Veterano, sentindo que sobrariam, realizaram uma fusão para tornarem-se mais fortes, ganhando vida o Atlético, que dois anos depois também estava na primeira divisão”, complementa Damian.
O pesquisador ainda ressalta que a vitória do Gaúcho sobre o Uruguaiana, no dia 18 de dezembro de 1966, não foi apenas uma conquista alviverde, mas sim uma conquista da região, que viu seus clubes tornarem-se grandes.
Ao apito final do árbitro, o campo e as piscinas foram tomados pela multidão, que promoveram um verdadeiro carnaval nas dependências do Sport Club Gaúcho. Nos ombros dos vibrantes torcedores, os atletas do Periquito foram carregados na tradicional volta olímpica.
Nos dias seguintes à conquista, atletas e comissão técnica, sob os olhos de muitos torcedores, foram homenageados na Câmara de Vereadores pelo importante feito que proporcionaram a Passo Fundo. Na ocasião o jornalista Túlio Fontoura, diretor do Diário da Manhã, em seu pronunciamento exaltou que o Gaúcho projetou o nome do município no cenário estadual e que a conquista deveria ser pesada pelos passo-fundenses, colocando-se ao lado de seu clube.
Os atletas homenageados:
Nadir Antonio Smaniotto
Adão Alcides Carbajal
Ramos da Luz
Amâncio Fróes Silveira
Daizon Pontes
Darci da Silva Lopes
Honorato Furtado
Manoel Bonifácio P. Nunes
Arthur Andrade de Moraes
Américo Martins de Oliveira
Raul Matte
Nelei Antonio Rocha
Ubirajara Pinheiro
Newton Giordani de Queiroz
Olavo Padilha
Genovêncio Moraes
Os dirigentes homenageados:
Wolmar Salton, Patrono do Sport Club Gaúcho
Aniello D’Arienzo, Presidente do Gaúcho
João Maluli, ex-presidente do Gaúcho
Hélio Bernardon, 1º vice
Riardo Santini – vice-presidente
Antônio Augusto Meirelles Duarte – 1º secretário
Ruy Sossing – 2º secretário
Ivon Rosado – 1º tesoureiro
Elton U. Ventura – 2º tesoureiro
Flávio Araújo – diretor
Amilcar Rostro – presidente da liga
Nicolau Malheiro – diretor social
Honorino Malheiros – presidente do conselho deliberativo
O passado e quem luta pelo futuro
À época da conquista Gilmar Rosso, hoje presidente do Sport Club Gaúcho, era um garotinho de apenas oito anos, o que faz com que suas lembranças de um dos maiores feitos do futebol passo-fundense fique restrito apenas a alguns flashes. “Na minha memória não tenho certeza se eu estava lá. É uma lembrança meio vaga. Meu pai me levava pela mão para ver o jogo, acompanhado pelo Domingos Busato, que era parceiro de meu pai. Uma situação que tenho na memória é de um jogo em que estava chovendo e que eu via meu pai e o amigo dele molhados, embarrados, de terno e gravata, mas alegres”, relembra Rosso.
Um episódio fatídico, porém, não sai da mente do acima de tudo torcedor: “A memória depois de alguns anos falha, mas lembro que todos faziam referência àquele jogo. Tenho na mente um grande amigo meu, que já era um senhor na época, chamado de Moacir do táxi, carregando nos ombros o ponteiro-direito Meca. É emocionante de relembrar”, complementa.
Pouco depois de citar nome após nome dos atletas que entraram em campo naquela época, inclusive explicando que o Raul Matte era centroavante, e não centromédio - posição em que passou a atuar depois, Rosso garantiu que acredita na volta dos tempos gloriosos do Gaúcho. “Acredito. Apesar de já ter 48 anos de história, o Gaúcho começou a formar sua glória quando ascendeu à primeira divisão. Ali ele deixou de ser um time municipal e regional para se afirmar no cenário estadual, tanto é que até a década de 80 permaneceu na primeira divisão”, complementa.
O desafio de voltar ao cenário principal
“Vai demorar um pouco. Não sou vendedor de ilusão. Acho que com bastante planejamento, sequência e uma base muito forte podemos chegar lá. Mas isso a médio e longo prazo, pois ainda não estamos estruturados como clube para isso. Talvez em alguns anos consigamos chegar lá. Em minha visão o Gaúcho está projetado para 2018”, argumenta Rosso.
A garra também nasceu em Passo Fundo
“Naquela época não era como é hoje, pois apesar de Grêmio e Inter serem campeões mundiais atualmente, tinham grandes times nas décadas passadas, difíceis de ser batidos. Mesmo assim, quando vinham aqui, ‘comiam grama’. Sendo até um pouco mais pretencioso me arrisco a dizer que Grêmio e Inter adquiriram aqui no Wolmar Salton um pouco da garra que todos chamam de argentina e uruguaia. Se você conversar com Wianey Carlet, Lauro Quadros e outros consagrados jornalistas da época, ele vão dizer que vir jogar em Passo Fundo contra o Gaúcho era uma fumaceira”, comenta Gilmar Rosso.
O torcedor/presidente lembra que os próprios jogadores da época diziam que se fossem campeão gaúchos teriam que vir carimbar a faixa em Passo Fundo, contra o Gaúcho.
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